Biografia e extraída de https://en.wikipedia.org/
JUNE JORDAN
June Millicent Jordan foi uma jamaicana americana, poeta bissexual, ensaísta, professora e ativista. Em seus escritos, ela explorou questões de gênero, raça, imigração e representação. Wikipedia (inglês)
Ver descrição original
Nascimento: 9 de julho de 1936, Harlem, Nova Iorque, Nova York, EUA
Falecimento: 14 de junho de 2002, Berkeley, Califórnia, EUA
Cônjuge: Michael Meyer (de 1955 a 1965)
Filhos: Christopher David Meyer
Formação: Universidade de Chicago, Barnard College, Midwood High School, Northfield Mount Hermon
PERNAMBUCO. No. 159 – Maio 2019. Especial AUGUSTO DE CAMPOS. Recife, Pernambuco: Cepe Editora, 2019. Ilus. col. ISSN 2527-011 Ex. bibl. Antonio Miranda –Doação de Salomão Sousa.
TEXT IN ENGLISH - TEXTO EM PORTUGUÊS
Poem about My Rights
Author: JUNE JORDAN
Even tonight and I need to take a walk and clear
my head about this poem about why I can't
go out without changing my clothes my shoes
my body posture my gender identity my age
my status as a woman alone in the evening/
alone on the streets/alone not being the point/
the point being that I can't do what I want
to do with my own body because I am the wrong
sex the wrong age the wrong skin and
suppose it was not here in the city but down on the beach/
or far into the woods and I wanted to go
there by myself thinking about God/or thinking
about children or thinking about the world/all of it
disclosed by the stars and the silence:
I could not go and I could not think and I could not
stay there
alone
as I need to be
alone because I can't do what I want to do with my own
body and
who in the hell set things up
like this
and in France they say if the guy penetrates
but does not ejaculate then he did not rape me
and if after stabbing him if after screams if
after begging the bastard and if even after smashing
a hammer to his head if even after that if he
and his buddies fuck me after that
then I consented and there was
no rape because finally you understand finally
they fucked me over because I was wrong I was
wrong again to be me being me where I was/wrong
to be who I am
which is exactly like South Africa
penetrating into Namibia penetrating into
Angola and does that mean I mean how do you know if
Pretoria ejaculates what will the evidence look like the
proof of the monster jackboot ejaculation on Blackland
and if
after Namibia and if after Angola and if after Zimbabwe
and if after all of my kinsmen and women resist even to
self-immolation of the villages and if after that
we lose nevertheless what will the big boys say will they
claim my consent:
Do You Follow Me: We are the wrong people of
the wrong skin on the wrong continent and what
in the hell is everybody being reasonable about
and according to the Times this week
back in 1966 the C.I.A. decided that they had this problem
and the problem was a man named Nkrumah so they
killed him and before that it was Patrice Lumumba
and before that it was my father on the campus
of my Ivy League school and my father afraid
to walk into the cafeteria because he said he
was wrong the wrong age the wrong skin the wrong
gender identity and he was paying my tuition and
before that
it was my father saying I was wrong saying that
I should have been a boy because he wanted one/a
boy and that I should have been lighter skinned and
that I should have had straighter hair and that
I should not be so boy crazy but instead I should
just be one/a boy and before that
it was my mother pleading plastic surgery for
my nose and braces for my teeth and telling me
to let the books loose to let them loose in other
words
I am very familiar with the problems of the C.I.A.
and the problems of South Africa and the problems
of Exxon Corporation and the problems of white
America in general and the problems of the teachers
and the preachers and the F.B.I. and the social
workers and my particular Mom and Dad/I am very
familiar with the problems because the problems
turn out to be
me
I am the history of rape
I am the history of the rejection of who I am
I am the history of the terrorized incarceration of
myself
I am the history of battery assault and limitless
armies against whatever I want to do with my mind
and my body and my soul and
whether it's about walking out at night
or whether it's about the love that I feel or
whether it's about the sanctity of my vagina or
the sanctity of my national boundaries
or the sanctity of my leaders or the sanctity
of each and every desire
that I know from my personal and idiosyncratic
and indisputably single and singular heart
I have been raped
be-
cause I have been wrong the wrong sex the wrong age
the wrong skin the wrong nose the wrong hair the
wrong need the wrong dream the wrong geographic
the wrong sartorial I
I have been the meaning of rape
I have been the problem everyone seeks to
eliminate by forced
penetration with or without the evidence of slime and/
but let this be unmistakable this poem
is not consent I do not consent
to my mother to my father to the teachers to
the F.B.I. to South Africa to Bedford-Stuy
to Park Avenue to American Airlines to the hardon
idlers on the corners to the sneaky creeps in
cars
I am not wrong: Wrong is not my name
My name is my own my own my own
and I can't tell you who the hell set things up like this
but I can tell you that from now on my resistance
my simple and daily and nightly self-determination
may very well cost you your life
From: The Collected Poems of June Jordan (2005)
TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de Adelaide Ivánova
Poema sobre os meus direitos
por JUNE JORDAN
Tradução de Adelaide Ivánova
Mesmo hoje eu preciso dar uma volta e arejar
minha cabeça em relação a esse poema que é sobre porque eu não posso
sair sem trocar de roupa de sapato
a postura do meu corpo meu gênero minha identidade, minha idade
meu status como mulher sozinha à noite/
sozinha na rua / sozinha não é o problema/
o problema é que eu não posso fazer o que eu que ro
fazer com meu próprio corpo porque eu tenho o gênero
errado a idade errada e pele errada e
suponha que isso não fosse aqui na cidade mas lá na praia/
ou longe no interior e eu quisesse ir
pra esses lugares sozinha pensando em Deus / ou pensando
sobre filhos ou pensando sobre o mundo / tudo isso
revelado pelas estrelas e pelo silêncio
eu não poderia ir e eu não poderia pensar e eu não poderia
ficar lá
sozinha
como eu precisava estar
sozinha porque eu não posso fazer o que eu quero com meu próprio
corpo e
quem nesse caralho arrumou as coisas
desta forma?
e na França eles dizem que se o cara penetrar
mas não ejacular então ele não me estuprou
mesmo se eu der uma facada nele e gritar
e implorar pro filho da puta e mesmo depois que eu esmagar
a cabeça dele com um martelo e mesmo se depois disso ele
e seus bróder me estuprarem mesmo depois disso
dizem que eu consenti e não houve
estupro porque finalmente você entende finalmente
ele me foderam porque porque eu estava errada eu estava
errada de novo por estar ali/ errada
por ser quem eu sou
o que é exatamente com na África do Sul
penetrando na Namíbia penetrando em
Angola e isso significa dizer... como você sabe se
Pretória ejacula como vai ser a evidência a
prova da monstruosa e ditatorial ejaculação na Terra Preta?
e se
depois da Namíbia e depois de Angola e depois de Zimbábue
e se depois de todos meus antepassados resistirem até mesmo
à autoimolação das vilas e se mesmo assim
depois disso perdermos o que os garotões vão dizer? eles vão
alegar que consenti?
Você tá me entendendo? nós somos as pessoas erradas
com a pele errada no continente errado e por que
caralhos as pessoas estão sendo razoáveis sobre isso?
e de acordo com o Times essa semana
lá em 1996 o Serviço Secreto Americano decidiu que eles tinham
um problema
e o problema era um homem chamado Nikrumah então eles
mataram ele e antes dele teve Patrice Lumumba
e antes dele teve meu pai no campus
da universidade de elite que eu fazia e meu pai com medo
de entrar no refeitório porque ele disse que ele
estava errado a idade errada a pele errada e identidade
de gênero errada e ele estava pagando minha mensalidades e
antes disso
era meu pai quem dizia que eu estava errada que
eu devia ter nascido menino porque ele queria um/ um
menino e que eu devia ter a pele mais clara
e que eu devia ter cabalo mais liso e que
eu não devia ser tão paquerador e em vez disso eu devia
ser apenas um menino e antes disso
era minha mãe sugerindo cirurgia plástica pro
meu nariz e aparelho pros meus dentes e me dizendo
pra deixar esses livros prá lá em outras
palavras
Eu estou muito ciente dos problemas do Serviço Secreto Americano
e dos problemas da África do Sul e dos problemas
das empresas petroleiras e os problemas da América
branca em geral e os problemas dos professores
e dos religiosos e da polícia e dos assistentes
sociais e em particular de Mamãe e de Papai/ seu estou muito
ciente dos problemas porque esses problemas
tornam-se
eu
Eu sou a história do estupro
Eu sou a história da rejeição de quem eu sou
Eu sou a história do aterrorizante encarceramento da
minha pessoa
Eu sou a história de ameaças espancamentos e infinitos
exércitos que são contra qualquer coisa que eu queria fazer com
minha mente
e meu corpo e minha alma e
que isso seja andar de noite
ou sobre o amor que sinto ou
sobre a santidade de minha vagina ou
a santidade dos meus líderes ou a santidade
de cada um dos meus desejos
que eu conheço por causa do meu particular idiossincrático
inquestionavelmente solteiro e extraordinário coração
Eu fui estuprada
por
que eu tenho tido o gênero errado a idade errada
a pele errada o nariz errado e cabelo errado a
necessidade erra o sonho errado a geografia errada
a roupa errada eu
Eu tenho sido o que estupro significa
Eu tenho sido o problema que todo mundo tenta
eliminar por penetração
forçada com ou sem evidência de secreção mas
que esse poema seja inconfundível
ele não é consentimento — eu não dou consentimento
a minha mãe e meu pais aos meus professores
à polícia da África do Sul à periferia
ao bairro rico à empresa aérea aos vagabundos
com pau duro nas esquinas aos tarados espiando de dentro dos
carros
Eu não estou errada Errada não é meu nome
Meu nome é meu meu meu
e eu não posso te dizer quem fez as coisas assim nessa porra
mas eu posso te dizer que de agora em diante minha resistência
minha simples, diurna e noturna autodeterminação
pode muito custar a sua vida.
*
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Página publicada em julho de 2021
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